sábado, 22 de janeiro de 2011

Cenas de Racisno no Brasil - III


Semana passada, viajei às pressas para o Paraná porque uma tia-avó faleceu.
Antes de querer ir propriamente ao enterro (afinal ela já estava morta e não acredito que ir ou não faria alguma diferença para ela naquele estado), fui mais para estar com minha família de origem.

Ainda preciso explicar que: 1) a cidade pra onde fui chama-se Ourizona, tem 3 mil habitantes, é uma região rural e fica há 37km de Maringá-PR; 2) a tia falecida morou lá por uns 50 anos mas nos últimos tempos estava em outra cidade, para receber cuidados de parentes mais próximos; 3) fazia alguns anos que ninguém de minha família visitava aquela cidadezinha e os amigos que ali moram, e; 4) olhando para meus parentes vejo alguns negros, uns tantos pardos (mulatos? mistos? afrodescendentes?) e muitos outros brancos.

Vamos ao acontecido: 
Terminado o cortejo, todos cansados, fomos nos enfiando nos carros, a fim de chegar a um lugar pra descansar, tomar banho, comer, relaxar.
Acontece que sentei no banco de trás de um dos automóveis onde também estava uma cadeirinha de bebê, com a pequenina dentro. Conforme eu colocava meu cinto de segurança a pequenina ao meu lado era ajeitada na cadeirinha por sua mãe. Do lado de fora havia uma senhora, amiga da tia falecida, que fiscalizava a arrumação da criança e insistia em dizer que o lugar da cadeirinha era no meio do banco traseiro, porque da maneira que estava não ficaria confortável para todos. E a mãe da bebê explicava, pacientemente, que a cadeira estava no local correto, ali mesmo, na lateral.
Então quando o pai da criança entrou no carro e eu fechei a porta do meu lado, a senhora, vendo que estávamos realmente de partida, rapidamente perguntou:
_ Mas se a cadeira ficar aí no lado, onde vai sentar a mãe do bebê?
_ A mãe sou eu! – respondeu a mulher, que ainda estava do lado de fora do carro. A mesma que desde o início cuidava da criança, ajeitando-a, e respondendo as perguntas insistentes da senhora.
A surpresa da senhora foi tanta que emudeceu. Todas as portas fechadas. O carro foi ligado e o silêncio foi quebrado pela conclusão em voz de mulher, som para os três adultos presentes e a pequena que dormia:
_ Ela ficou preocupada porque não havia lugar para a mãe sentar porque só conseguiu enxergar uma babá!
...

Nesses momentos não há lugar para miscigenações, mestiçagens ou coisas que as valham. Nesses momentos as pessoas são colocadas como peões em seus devidos lugares. Homem branco, pai. Neném branca, filha. Mulher não branca, babá!

Cenas assim só nos revelam que não existem mulat@s, mist@s, pard@s, afrodescentendes. Existem negr@s! E não é o sutil tom de pele que nos revela esse "fato". É a maneira tosca como uma pessoa é (des)tratada, (des)respeitada, (des)acreditada e (des)prezada.

Às pessoas, de todos os tons e cores, meu respeito e admiração por (sobre)viverem neste país “não racista” que é o Brasil.
Pr@s querid@s bem próximos, de melanina mais ousada: vocês são o que de melhor poderiam ter acontecido à nossa família.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Benke

Pra começar 2011, compartilho uma música da qual me lembrei hoje.
Seu nome é "Benke", composição de Milton Nascimento e Márcio Borges.

Alguém sabe o ano da canção? Tentei achar (sem muito empenho, confesso) e não consegui.
Só sei que quando eu era adolescente, lá em Porecatu-PR, a música entrou pra trilha sonora de uma novela.
Era daquelas que só tocam de vez em quando e ninguém dá muita atenção...
Mas a tal música me encantou de um jeito que eu, atenta ouvinte da Rádio Brotense (1 210 KHz), ligava todos os dias pra fazer meu pedido.

Enfim, eu não sabia o que era Benke até agora, e descobri que é o nome de um curumim do povo Kampa e a canção foi dedicada a todos os curumins de todas as raças/etnias do mundo.

Vai ver que foi @ curumim que vive em mim que se encantou...




BENKE (Milton Nascimento e Márcio Borges)

Beija-flor me chamou: olha
Lua branca chegou na hora
O Beija-Mar me deu prova:
Uma estrela bem nova
Na luminária da mata
Força que vem e renova

Beija-Flor de amor me leva
Como o vento levou a folha

Minha Mamãe soberana
Minha Floresta de jóia
Tu que dás brilho na sombra
Brilhas também lá na praia

Beija-Flor me mandou embora
Trabalhar e abrir os olhos

Estrela d’Água me molha
Tudo que ama e chora
Some na curva do rio
Tudo é dentro e fora
Minha Floresta de jóia

Tem a água
tem a água
tem aquela imensidão
tem sombra da Floresta
tem a luz do coração

Bem-querer